Militares das Forças Armadas abandonam a carreira por motivo de soldos incompatíveis com as funções
Soldos baixos forçam saída
Até o mês passado, 91 oficiais pediram dispensa antecipada. Carreira civil atrai aspirantes
Além da defasagem salarial, oficiais e praças também se queixam das privações que outros ramos do funcionalismo não têm, como restrição dos direitos trabalhistas (não podem fazer greve ou cobrar horas extras). Para a representante da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas, Ivone Luzardo, a evasão está ocorrendo por pura falta de perspectiva.
Ananda Rope e Marco Aurélio Reis
BRASÍLIA E RIO - Os vencimentos militares 20% inferiores aos pagos aos servidores federais civis da área de segurança estão forçando a antecipação dos pedidos de ingresso para reserva remunerada. O alerta, revelado pelos clubes militares em nota oficial e divulgado com exclusividade por O DIA na sexta-feira passada, tem números surpreendentes. De janeiro a agosto deste ano, 91 oficiais pediram baixa mesmo tendo possibilidade de crescimento na carreira. Motivo apresentado: soldos incompatíveis com a função. Na Academia Militar das Agulhas Negras, 42 alunos deixaram os quadros nos últimos dois anos após passarem em concurso público.
Coronel do Exército com 28 anos de quartel, S. não aguardou a promoção a general, topo da carreira e sonho de todo o estudante de academia militar — mas que lhe renderia pouco mais de R$ 1 mil no soldo. “Não dá para ver nossos filhos perdendo oportunidades na vida porque não temos como bancar a melhor educação deles”, diz o coronel, hoje chefe de segurança de uma empresa privada do Rio.
Das três Forças, a que registra o maior número de pedidos de baixa é o Exército. Foram 41 oficiais até o início deste mês. Em seguida, vêm a Marinha, com 34 baixas, e a Aeronáutica, com 16. Calcula-se que até o fim do ano a quantidade supere a de 2006, quando 206 oficiais deram adeus às Forças Armadas, segundo informações publicadas no ‘Diário Oficial da União’.
Os pedidos antecipados de ingresso na reserva são menos precisos entre os praças. Mas se estima que a Marinha lidere o ranking, com 1.100 pedidos de baixa nos últimos cinco anos, a maioria entre alunos da escola de aprendizes e marinheiros formados. Exército e Aeronáutica teriam sofrido com a saída de 460 praças.
Pedidos de baixa foram o assunto de um em cada 10 e-mails recebidos pela Coluna Força Militar de O DIA nesta semana de estréia, ocorrida segunda-feira passada. Um leitor com dois filhos no Colégio Naval contou ter “certeza” de que muitos alunos da instituição de excelente ensino não vão retribuir o investimento da Marinha na formação deles.
“Os aspirantes, antes de se formarem oficiais, já fazem cursinhos preparatórios para concursos públicos”, revelou por e-mail um capitão-tenente da Marinha. “Muitos desses cursos oferecem, inclusive, bolsas de estudo para eles”, completou.
A situação não é diferente nas outras Forças e entre os praças. “Em Brasília, há sargentos e até suboficiais trabalhando de garçom para complementar a renda familiar”, contou outro leitor. A situação é clandestina. O segundo emprego é proibido nas Forças Armadas.
“Após 10 anos de serviço, um 1º sargento recebe pouco mais de R$ 2 mil por mês. Enquanto isso, um soldado PM em Brasília ganha, depois de um ano de quartel, R$ 3.500”, justifica um outro militar.
Fonte: O Dia Online http://odia.terra.com.br/economia/htm/geral_123148.asp
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